O que dizer do que foi aprovado (por 8 votos contra 1) pelo STF no dia 17 do mês de junho de 2009? A não exigência do diploma de jornalista para atuar na área tá dando o que falar. E não é por acaso: pessoas entram numa faculdade afim de aprender sobre a profissão enquanto outras simplesmente exercem sem uma formação formal, formação essa que tem o dever de fazer com que os estudantes reflitam sobre as ciências humanas e sua prática no Mercado de Trabalho, sem simplesmente reproduzi-las tecnicamente. Mas essa deveria ser a tarefa da formação...
A não obrigatoriedade do diploma de jornalismo é só o começo, dizem os rumores. Em breve as outras habilitações de comunicação serão também modificadas. E eu, a universitária que sou, lindando com tanta gente de Comunicação, tenho que temer a manifestar a minha opinião. Mas colo aqui um texto que recebi através de uma lista de e-mail de um profissional de Relações Públicas. E eu concordo. Muito.
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Não, obrigado!
Se conselho fosse bom, ninguém dava de graça, nem a R$ 300,00.
Marcello Chamusca *
Tenho visto alguns colegas questionando porquê não se fala em desregulamentar atividades como medicina e engenharia civil, já que estão fazendo o mesmo com as atividades de comunicação. Ora, por mais orgulhosos que sejamos da nossa profissão, não dá pra comparar o saber específico de um médico ou de um engenheiro civil com o de um relações-públicas ou mesmo de um jornalista. O nosso saber é específico sim, mas também é subjetivo, permite uma grande margem para interpretações e um amplo espaço para a criatividade e a ação diferenciada de cada profissional, e, neste sentido, abre um grande flanco para a atuação dos auto-didatas. A experiência e a competência podem fazer uma grande diferença e sempre serão bem-vindas em todas as situações e é exatamente aí que a formação universitária é importante, para fundamentar e dar base teórica e técnica às ações dos profissionais da área, mas definitivamente não será o diploma que vai garantir isso, mas o conhecimento e a experiência acumuladas em quatro anos de reflexão e prática.
Precisamos desmistificar de uma vez essa idéia de que a exigência do diploma garante alguma coisa para alguém. Pelo contrário, muitas vezes, atrapalha muito a valorização da profissão, a nossa colocação no mercado e o seu reconhecimento social. Não precisamos exigir diplomas, mas competência.
Por um outro lado, os conselhos instituídos para atuar na fiscalização desse processo, no caso específico das relações públicas brasileiras, estão completamente avacalhados, sem credibilidade e não passam de um instrumento ineficiente e ineficaz, que nada de bom tem trazido para a nossa profissão, desde que foi instaurado no final dos anos 60, durante a ditadura militar.
Para estimular a nossa reflexão, elaborei algumas questões bem práticas relacionadas ao tema:
1. Qual a profissão você acredita que seja mais valorizada e reconhecida socialmente no Brasil: Relações Públicas (regulamentada - para o exercício é exigido diploma) ou Publicidade e Propaganda (não possui regulamentação - qualquer um pode se denominar publicitário e não sofrer nenhuma sanção por isso - aliás, os mais renomados publicitários do Brasil nunca fizeram curso superior de publicidade. Ex.: Duda Mendonça, Nisan Guanaes, Washington Olivetto, dentre muitos outros)? Com isso, podemos afirmar que se a exigência por diploma e um conselho para fiscalizar o exercício ilegal fosse bom para a profissão, relações públicas deveriam ser muito mais valorizadas que a publicidade, que não tem nem um nem outro. No entanto, na prática, é exatamente o contrário que acontece.
2. Por que será que as empresas preferem ter um setor de Comunicação Corporativa, de Marketing, de Relacionamentos Estratégicos, dentre outras denominações, e não de Relações Públicas? Se respondeu "porque elas não sabem o que são relações públicas": resposta errada. A resposta mais próxima da realidade seria: porque se elas tiverem um setor de Relações Públicas precisam ser registradas no conselho e pagar uma anuidade, que pode variar de R$ 450,00 a R$ 2.790,00. Me responda sinceramente: se você tivesse uma empresa hoje criaria um departamento de Comunicação Corporativa (que não vai custar um centavo a mais) ou de RP (que pode chegar a lhe custar R$ 2.790,00 por ano)? Será que é difícil entender porque não encontramos empregos com a denominação de relações públicas no mercado?
3. Você conhece algum caso de alguém que tenha sido beneficiado com alguma coisa advinda do conselho? Se conhecer, por favor, me indique, que gostaria de inserir o primeiro caso no meu banco de dados.
4. Você conhece algum caso de alguém que tenha respeito pela profissão por causa do conselho? Se conhecer, por favor, me mande também, pois será o primeiro. Em compensação tenho, pelo menos, 20 exemplos de empresários que têm pavor à profissão por causa da ação medíocre e equivocada do nosso amorfo conselho.
5. Se o conselho não consegue reservar mercado e nem valorizar a profissão, para que ele serve além de me deixar mais pobre algumas centenas de reais por ano?
Bom, podia enumerar muitas outras questões, mas acredito que essas cinco já são mais que o suficiente para refletirmos um pouco sobre o tema, pois, tudo isso me fez lembrar da minha avó, que costumava dizer que “se conselho fosse bom ninguém dava de graça!”. Mas devo confessar que preferia o tempo em que me davam de graça, pois hoje estão me cobrando R$ 300,00 todo ano por ele.
* Coordenador do Curso de Pós-graduação Gestão Estratégica da Faculdade Batista Brasileira (FBB); Coordenador dos Cursos de Relações Públicas e Publicidade e Propaganda da Faculdade Isaac Newton (FACINE); Diretor do Portal RP-Bahia (http://www.rp-bahia.com.br/).
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